Os trabalhadores portugueses nunca foram tão
maltratados. São injustamente acusados de serem responsáveis pela crise. E
obrigam-nos a pagar com austeridade pelos crimes que não praticaram.
Correio da Manhã, 30 de Abril, 01h00
Por:Paulo Morais, Professor Universitário
A nossa força laboral é de qualidade. Está é mal
enquadrada e é dirigida, em regra, por incompetentes. No entanto, os empregados
são acusados de serem malandros, de ganharem muito. Pelo contrário, os trabalhadores
portugueses são dos que têm horários mais alargados na União Europeia, e dos
que menos ganham. Diz-se ainda que a crise resulta do facto de que andaram a
gastar acima das suas possibilidades. Este discurso é um verdadeiro embuste.
Não foram os trabalhadores que criaram a dívida pública e andaram a desbaratar
recursos na Expo 98, no Euro 2004 ou sequer têm responsabilidades em casos de
corrupção como o BPN. Também não foram os gastos dos trabalhadores que
provocaram a dívida privada colossal que nos atormenta. Cerca de 70% desta
dívida é resultante de especulação imobiliária e apenas 15% deriva da aquisição
de bens de consumo.
Mas na hora de pagar as contas da crise são os
trabalhadores que são chamados a expiar os pecados que não cometeram. O estado
quer diminuir a despesa e deveria reduzir brutalmente os gastos com juros da
dívida pública, baixar as rendas pagas nas parcerias público-privadas ou poupar
em custos absurdos como rendas imobiliárias de favor. Mas o governo opta pelo
caminho da redução salarial. E até implementa políticas geradoras de
desemprego, através da dispensa de professores necessários nas escolas ou até
de medidas fiscais que provocam encerramento de empresas e, por essa via, mais
desemprego.
Também na tentativa de aumentar receita e equilibrar
as contas públicas, o Parlamento castiga mais uma vez o factor trabalho. Os
escalões de IRS foram revistos, agravando este imposto. Ao qual ainda se
aplicou uma sobretaxa. Enquanto isso, são poupados a sacrifícios os detentores
de fundos imobiliários, os maiores beneficiários da especulação imobiliária,
que estão isentos de IMI ou IMT.
Castigados com quebras salariais e feridos na sua
dignidade, os trabalhadores são o bode expiatório da crise.
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