quarta-feira, 8 de maio de 2013

"Castigados e ofendidos" por Paulo Morais





Os trabalhadores portugueses nunca foram tão maltratados. São injustamente acusados de serem responsáveis pela crise. E obrigam-nos a pagar com austeridade pelos crimes que não praticaram.

Correio da Manhã, 30 de Abril, 01h00
Por:Paulo Morais, Professor Universitário

A nossa força laboral é de qualidade. Está é mal enquadrada e é dirigida, em regra, por incompetentes. No entanto, os empregados são acusados de serem malandros, de ganharem muito. Pelo contrário, os trabalhadores portugueses são dos que têm horários mais alargados na União Europeia, e dos que menos ganham. Diz-se ainda que a crise resulta do facto de que andaram a gastar acima das suas possibilidades. Este discurso é um verdadeiro embuste. Não foram os trabalhadores que criaram a dívida pública e andaram a desbaratar recursos na Expo 98, no Euro 2004 ou sequer têm responsabilidades em casos de corrupção como o BPN. Também não foram os gastos dos trabalhadores que provocaram a dívida privada colossal que nos atormenta. Cerca de 70% desta dívida é resultante de especulação imobiliária e apenas 15% deriva da aquisição de bens de consumo.

Mas na hora de pagar as contas da crise são os trabalhadores que são chamados a expiar os pecados que não cometeram. O estado quer diminuir a despesa e deveria reduzir brutalmente os gastos com juros da dívida pública, baixar as rendas pagas nas parcerias público-privadas ou poupar em custos absurdos como rendas imobiliárias de favor. Mas o governo opta pelo caminho da redução salarial. E até implementa políticas geradoras de desemprego, através da dispensa de professores necessários nas escolas ou até de medidas fiscais que provocam encerramento de empresas e, por essa via, mais desemprego.

Também na tentativa de aumentar receita e equilibrar as contas públicas, o Parlamento castiga mais uma vez o factor trabalho. Os escalões de IRS foram revistos, agravando este imposto. Ao qual ainda se aplicou uma sobretaxa. Enquanto isso, são poupados a sacrifícios os detentores de fundos imobiliários, os maiores beneficiários da especulação imobiliária, que estão isentos de IMI ou IMT.

Castigados com quebras salariais e feridos na sua dignidade, os trabalhadores são o bode expiatório da crise.

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